A palavra professor tem um significado forte, o que se dedica a refletir sobre essa entrega é colocar-se no mundo do outro, adentra-se em locais muitas vezes desconhecidos, sombrios, cheios de espinhos, mas também repletos de vida, de histórias, de construções e processos!

O professor também tem esse papel do envolver-se, de investigar para a partir de então pensar sobre essa vida que está em suas mãos, refletir em como conduzir a aprendizagem nas diversas realidades e contextos.

António Nóvoa diz que as famílias podem, e devem, dar aos seus filhos a educação que considerem mais adequada. As religiões, também. As comunidades, também. Mas a educação escolar é de outro tipo: aqui apresenta-se a humanidade toda, e não apenas uma parte da humanidade, uma dada visão familiar, religiosa ou comunitária. Por isso, a ciência é tão importante como matriz do currículo. E as artes, também.

Sabemos que vivemos com grandes inquietações, que temos tamanha responsabilidade em propor uma educação pautada no respeito, feita no diálogo, para que aprendam a conviver, a viver com o outro, a abrir o mundo, alargar a liberdade dos alunos, que permite a construção do futuro, partindo dessa capacidade de estar presente, de organizar o trabalho docente.

Olhar para o professor como um ser dotado de virtudes e conhecimento de bagagem é promover possibilidades, diálogos e partilha com os outros, entretanto a cooperação para uma educação efetiva na relação dos alunos e professores, no olhar pautado no respeito que as famílias e alunos deveriam ter, está escasso, quase nulo. Em muitas situações, a própria classe acaba por desvalorizar seu papel na sociedade.

Vivemos num contexto voltado para o imediatismo, os processos não estão profundos, o conhecimento passa por uma transformação baseada em depósito de informações, vivências e experiências reais quase não existem. Tudo acontecendo de forma superficial. Esse é o grande dilema dos professores, tarefas, livros, conteúdos precisam ser concluídos a qualquer custo, independente do envolvimento e interesse dos alunos.

Buscar caminhos que tragam contextos e significações às propostas são iniciativas dos professores, investem no processo que permite que os educandos tenham uma capacidade de construir novos ambientes educativos, muito diferentes do tradicional de sala de aula. Porém, muitas vezes se veem sem recursos, ferramentas e apoio.

António Nóvoa aborda que são muitas as crises globais que atingem a educação, a transição digital, as alterações climáticas, os retrocessos democráticos, as transformações do trabalho, as mudanças demográficas, as migrações e as mobilidades. Para pensar e agir com lucidez em face dessas crises, os professoress necessitam de condições exepcionais, dar-lhes mais autonomia pedagógica, criar meios indispensáveis para o exercício coletivo da profissão, redesenhar a formação dos professores e a carreira do docente, acolher, ajudar os jovens professores, apoiar a partilha de experiências e de iniciativas.

Partindo também do princípio de que estamos todos em caminho à mesma direção, a valorização do nosso trabalho nos diversos âmbitos e a libertação do futuro dos educandos, mas existe uma contradição nesse trajeto ou melhor, uma contrapartida. Entendemos que para realizar um trabalho de maneira direcionada, coerente, envolvente e ativa, os professores devem buscar sempre atualizações, cursos, formações, palestras, especializações para garantir uma educação inclusiva, de qualidade e equitativa, para promover oportunidades ao longo da vida para todos. Essas oportunidades infelizmente são para poucos, pois valores exorbitantes são colocados para uma roda de conversa de apenas 2 horas, oficinas brincantes, palestras de 4 horas, tornando o caminho para o conhecimento inviável, assim a qualificação e a formação dos professores passaram a ser algo secundário e não primordial por essa falta de bom senso de alguns palestrantes que visam somente o lucro.

Não podemos perder de vista que a educação serve para nos ajudar a proteger e a libertar o futuro, nada fazer que ponha em risco o futuro, tudo fazer para preservar e ampliar as possibilidades de escolha e de decisão das gerações futuras. António Nóvoa continua dizendo que a educação tem de ser capaz de se abrir ao futuro, de abrir futuros. É um trabalho que tem que ser feito em comum. Apoiar, dar suporte, ter escuta e enaltecer o trabalho do professor é um caminho de celebração da consciência e dos futuros comuns.