A vida moderna é frequentemente sinônimo de um ritmo acelerado, pressões constantes e altos níveis de estresse. A busca por soluções naturais para lidar com o estresse e melhorar a saúde mental e física tem levado a uma redescoberta das plantas adaptógenas - um grupo de ervas com propriedades medicinais que têm sido utilizadas em diversas culturas ao redor do mundo.

A história das plantas adaptógenas remonta há mais de 2.000 anos, quando a medicina chinesa e ayurvédica começaram a explorar o uso de plantas para tratar doenças e melhorar a saúde. Adaptógenos são plantas com propriedades medicinais que auxiliam o corpo a lidar com fatores estressores, sejam eles físicos, químicos ou biológicos. Essas plantas têm sido utilizadas para aumentar a vitalidade, a longevidade e a resistência do corpo em diferentes sistemas medicinais tradicionais. Na medicina chinesa, as ervas adaptogênicas são chamadas de "tonic herbs" e são conhecidas por aumentar a adaptabilidade e resistência do organismo. Por outro lado, na medicina ayurvédica, as ervas adaptogênicas são chamadas de "rasayanas" e têm como objetivo melhorar a saúde geral, a função cognitiva e a resistência ao estresse.

O termo adaptógeno foi introduzido em 1958 pelo toxicologista soviético Lazarev, com o objetivo de caracterizar os mecanismos fisiológicos de ação dos compostos e de algumas plantas medicinais que, presumivelmente, aumentavam a resiliência inespecífica de organismos a desafios nocivos. A teoria baseou-se nos resultados de estudos sobre a Schisandra chinensis (magnólia chinesa) na URSS durante a Segunda Guerra Mundial, cujo objetivo era fornecer às Forças Armadas Soviéticas e à Indústria Militar (soldados, pilotos, marinheiros e civis envolvidos na produção de armas e materiais de guerra) estimulantes naturais facilmente disponíveis. Durante as décadas de 1960 e 1970, outros cientistas soviéticos alargaram a investigação dos adaptógenos a plantas medicinais "rejuvenescedoras e revigorantes" tradicionalmente utilizadas na China, Coreia, Japão, Sibéria e no extremo oriente da URSS para uma variedade de condições patológicas. A extensão da investigação sobre adaptógenos realizada na URSS foi enorme, com mais de 1000 estudos farmacológicos e clínicos publicados na Rússia até 1982. A definição de adaptógenos é continuamente atualizada, incorporando o crescente conjunto de evidências científicas relacionadas com a compreensão dos seus mecanismos de ação farmacológicos e moleculares.

Atualmente, são amplamente empregados na medicina alternativa e complementar, bem como na investigação em farmacognosia, fitomedicina e fitoterapia. Sendo utilizados na:

  • Medicina desportiva para promover uma recuperação mais rápida após exercício intenso e esforço excessivo;
  • Medicina do trabalho para proteção contra fatores ambientais negativos;
  • Medicina geriátrica com o objetivo de promover a saúde através da prevenção e tratamento de doenças e incapacidades em idosos.

Os adaptógenos desempenham um papel fundamental na defesa dos organismos contra os desafios ambientais, incluindo bactérias nocivas, doenças transmitidas por insetos, raios ultravioleta excessivos do sol e desafios da poluição, excesso de calor e frio, e hipóxia. Os adaptógenos funcionam como vacinas contra o estresse para ativar o sistema de defesa e a taxa metabólica do corpo, revertendo os efeitos físicos negativos do estresse e restaurando o equilíbrio e a saúde do corpo caso:

  • O sistema imunitário não esteja a funcionar corretamente devido a uma reação excessiva ou insuficiente aos desafios, os adaptógenos ajudam a restaurar a resposta imunitária adequada;
  • O sistema imunitário esteja demasiado ativo, provocando alergias e asma, artrite reumatoide ou lúpus, os adaptógenos reduzem a resposta do sistema imunitário e fazem-no regressar a um nível normal;
  • O sistema imunitário esteja sub ativo, provocando constipações frequentes, bronquite, infecções dos seios nasais ou dos ouvidos, e até pneumonia ou a causar anemia ou problemas digestivos como úlceras ou diarreia crónica, os adaptógenos podem ajudar a reforçar a resposta imunitária, terminando assim o ciclo de doença;
  • A química do cérebro esteja desequilibrada, os adaptógenos podem restaurar o equilíbrio, tendo efeitos profundos na função cognitiva, memória e humor.

Existem vários tipos de adaptógenos, entre os mais populares estão: Ashwagandha (Withania somnifera): Conhecida como "ginseng indiano" ou "cereja de inverno indiana", a ashwagandha é amplamente utilizada na medicina ayurvédica. É um adaptógeno com propriedades anti-stress, anti-cancerígenas, anti-inflamatórias, anti-hiperglicêmicas, antioxidantes, inmunoestimulantes, antiepilépticas, antidepressivas, antidiabéticas, anticoagulantes, regenerativas e de rejuvenescimento. Os alcalóides, as saponinas e as lactonas esteroidais (withaferinas, withanolides) estão entre os componentes químicos biologicamente ativos da Withania somnifera.

Rhodiola (Rhodiola rosea): Também conhecida como "raiz de rosa" ou "raiz dourada", a Rhodiola rosea é popular por suas propriedades neuroprotetoras e pela capacidade de aumentar a resistência do corpo ao estresse. Seus extratos têm sido utilizados para melhorar o desempenho físico e cognitivo, além de atuar como antioxidantes e imunomoduladores. É associada a várias propriedades benéficas, como antidiabética, anti-cancerígena, anti-envelhecimento e cardioprotetora. A Rhodiola rosea é a espécie que demonstrou ser a mais segura para uso humano, sem efeitos adversos documentados. As atividades terapêuticas da Rhodiola rosea estão relacionadas à existência de uma mistura complexa de componentes ativos como flavonoides, tirosol, proantocianidinas e álcool cinamílico, que são os polifenóis encontrados na planta. Os extratos de Rhodiola rosea têm sido utilizados em bebidas, aditivos alimentares e em preparações medicinais comerciais a nível mundial.

Maca (Lepidium meyenii): Originária dos Andes no Peru, a maca é conhecida por suas propriedades para melhorar a vitalidade e a fertilidade, além de reduzir sintomas da menopausa nas mulheres. Tem sido utilizada como um adaptógeno para tratar a anemia, reumatismo, distúrbios respiratórios e equilíbrio hormonal feminino durante séculos. Tem ação antioxidante, neuroprotetora e anti-cancerígena. Os polifenóis, os polissacarídeos não amiláceos, os macaenos e os glucosinolatos são alguns dos componentes presentes nas raízes e nas folhas da maca. A maca pode ser utilizada em produtos comercializados como comprimidos, cápsulas, farinha, licor, chocolate e bebidas.

Ginseng (Panax Ginseng): Também conhecido como ginseng coreano é uma das ervas adaptogênicas mais conhecidas e amplamente utilizadas. Ele é conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, além de ajudar a melhorar a função cognitiva, aumentar a energia e reduzir a fadiga. O Panax ginseng contém muitas substâncias químicas ativas, sendo as mais importantes os chamados ginsenosídeos ou panaxósidos.

Embora os adaptógenos sejam considerados relativamente seguros, eles podem interagir com alguns medicamentos e causar efeitos colaterais em algumas pessoas. Por isso, é sempre importante consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer tratamento à base de plantas, especialmente para indivíduos com condições de saúde pré-existentes ou em combinação com outros medicamentos.

Referências

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