Sei você já deve ter visto (ou não) um monte de matérias falando sobre o ChatGPT por aí, essa é só mais uma.

Uma frase que li na parede de uma loja de departamento faz já algum tempo, e se foi escrito alguém pensou: “a tecnologia vai reinventar o negócio, mas as relações humanas continuarão a ser a chave para o sucesso”.

Começando por tentar explicar o que é essa nova tecnologia: Sabe aquele chatzinho de atendimento chato e burro que há em alguns sites para tirar dúvidas, que não entende o que você está perguntando e por fim acaba dizendo "vamos redirecioná-lo para um de nossos atendentes humanos", então... ele nasce daí, mas hoje vai bem além. O ChatGPT e outros que estão nascendo por aí pode conversar tranquilamente com uma pessoa e dar muitas respostas mais complexas, assim como aquele seu amigo que manja de determinado assunto.

Há muitos anos acontece uma corrida das empresas para desenvolver um sistema mais esperto, que usando de cruzamento de informações, memória, dedução e experiência possa chegar a conclusões e respostas, que é mais ou menos como nós seres humanos fazemos para responder ou trazer uma solução a uma pergunta. Assim ao invés daquele chat burro, que só entende perguntas simples e retas, criou-se um chat que realmente entende o que você diz, a intenção e o contexto. Parece pouco não? Mas não é.

Pouco mais de um ano foi anunciado o ChatGPT, que discretamente vinha sendo desenvolvido e aprimorado a tempos. Nos bastidores da secreta competição industrial muitos outras buscavam dar uma solução parecida e lucrar muito com esse avanço. Além, claro, de com isso entrar para história.

Para se ter uma ideia, programas como este, conseguem ler textos e criar outros, também podem entre muitas coisas “ler” imagens, o que é um divisor de águas. Sabe aquele captcha aparentemente bobo que pede para você reconhecer as imagens que tenham letras rabiscadas ou digamos: um cachorro? Por trás dele, que é simples para nós, está um refinado teste para saber se quem ou o que está tentando acessar é um ser humano de verdade, pois antes os bots não conseguiam entender imagens e conceitos para eles complexos. Afinal reconhecer um cavalo para um robô não é fácil porque ele não sabe bem o que é um cavalo. Bom, não era, agora ele sabe.

Um captcha (teste de Turing completamente automatizado para diferenciação entre computadores e humanos) é uma conferência visual/auditiva de uma coisa. E pode já ter que ser revisto, pois as IAs já começam a decifrá-lo.

Pois trazer um salto como esse pode mudar os rumos da sociedade e a forma como resolvemos as coisas. Pense por exemplo na internet, que reuniu grande parte do conhecimento humano e o pulverizou, foram tantas as novas possibilidades que vieram com ela, uma revolução não? Assim como o foram a eletricidade e o motor. São coisas que dividem entre antes e depois, que impactam significativamente o mundo e alteram toda a realidade ao nosso redor.

Claro, essa pode ser só mais uma promessa. Afinal quantas invenções por mais que parecessem úteis não foram assimiladas pela sociedade, seja por alto custo ou por esbarrar em outras questões. Os óculos com câmera (Google Glass, fracasso graças a Deus), as TVs quadro, o exoesqueleto para paraplégicos (ainda em desenvolvimento), o celular de duas telas, o carro anfíbio e muitas outras inovações que por algum motivo não foram adiante. Mas até agora tudo indica que quanto a tal inteligência de máquina, esta veio para ficar e mexer com nossa realidade.

Ao surgir algo assim, que pode mudar tudo, não sabemos onde pode nos levar. É como estar no olho de um furacão, no ponto imediato, onde estamos tudo parece calmo e estático, mas ao redor as coisas estão em movimento intenso, se destruindo, refazendo, adquirindo novas formas, mal percebemos, mas os efeitos disso já estão nos afetando. Quando estamos vivendo um grande advento, fenômeno, não temos ainda noção de que o estamos vivendo. Só com o tempo é que podemos olhar para trás e avaliar com calma o que aconteceu. Esse é um conceito usado em História e Sociologia.

Com esse avanço os usos podem ser os mais variados impossíveis. Há muita especulação, mas a maioria das pessoas que estão falando sobre o assunto tem uma visão limitada de suas possibilidades. O debate inicial e superficial até, é se a inteligência artificial vai nos substituir, o que me parece um exagero, é mais provável até pelas possibilidades, que nos integremos cada vez mais a essas novas tecnologias, a humanidade está no caminho de se tornar o homem-máquina previsto nas obras da imaginação.

Um debate eufórico tomou conta das redes, as máquinas vão finalmente nos dominar? É mais provável que nos integremos a elas. Detalhe agora mesmo ao redor do mundo são pessoas que a estão alimentando com informações de todo tipo. Salto quântico para a sociedade ou o início do fim?

Aliás quanto a esse medo, de a tecnologia nos substituir, recomendo uma obra um tanto underground lançada em quadrinhos nos anos 80 e hoje esquecida, que vai muito além de cenários até meio clichês traçados em obras da linha de Exterminador do Futuro ou Blade Runner. Com desenhos e roteiro psicodélico A Era Metalzóica mostra uma possibilidade plausível da evolução das inteligências artificiais em coerência com as forças da natureza, do qual aliás o homem faz parte. Recomendo para quem queira ter outras perspectivas mais abertas.

Se você pensar expandido, vai ver que dá para usar essa ferramenta em infinitos campos. Vou dar um exemplo: pense numa invenção humana qualquer, pode ser a furadeira, essa máquina que parece uma ferramenta limitada pode ajudar a pessoa a criar as mais variadas coisas, nas mãos de um marceneiro fará algumas coisas, nas de um médico será um instrumento tal e nas mãos de um artista plástico outra totalmente diferente. A grande questão de novas ferramentas é essa na história humana: "imagine tudo que se pode fazer com isso?"

Veja este vídeo onde o artista Loop B faz música com uma furadeira:

Se empresas são um coletivo de pessoas que buscam um resultado direcionado e que criam soluções e produtos, o usuário individual e o uso da tecnologia em suas rotinas é que mostra novos rumos os quais as empresas acabam tendo que seguir a tendência se adaptando ao uso que nasce espontaneamente da comunidade. As criações nunca nascem de um lugar só, sendo sempre um esquema de colaboração direta ou indireta e que se realimenta de todos os indivíduos da sociedade.

A meu ver, a grande questão da IA será como as pessoas usarão essa nova possibilidade. Antes que as máquinas se tornem sencientes o debate é: o que poderemos fazer com algo tão incrível? Na verdade, a infinita criatividade humana é o que pode preocupar. Como toda invenção, as pessoas com certeza darão usos inusitados a ela, que vão ser bons, mas também ruins.

Um fluxograma simplista, mas bom para ilustrar como seria a alimentação da IA e seu uso:

Necessidades > Criações e conhecimento humano acumulado por milênios > Registros em variados suportes > Digitalização para internet > Alimentação das inteligências artificiais > Retroalimentação: Novas criações humanas > infinito.

As polêmicas já estão por aí. A IA pode escrever reportagens, peças teatrais, fazer defesas jurídicas, reproduzir o visual de pessoas e suas vozes, há pinturas e esculturas feitas por robôs, músicas recriadas etc. Mas esses são usos óbvios até, é na mão das pessoas "comuns" (onde muitas vezes verdadeira revolução acontece) que as coisas vão tomar um rumo nunca pensado. Veja o que uma câmera no celular fez nos últimos anos, é só dar uma olhada no Youtube ou outros como Tiktok e dá para perceber o tamanho da criatividade das pessoas.

Pela própria necessidade, reaproveitamento e imaginação das pessoas, certas coisas pensadas para determinada função tomam novos usos, assim como a roda do carro vira uma churrasqueira, o pneu um balanço e a câmara uma boia. Com a IA então, o leque se torna infinitamente maior. Em casa ou na garagem alguém pode criar um tradutor que entenda a língua das plantas. Enquanto outro alguém vai criar um simulador que copiará sua voz e com ela dará um jeito de dar um golpe na sua tia pedindo uma transferência de créditos se passando por você. São tantas as coisas que se pode fazer, que chega a ser impossível prever todas. Neste exato momento, um jovem está bolando um uso não previsto para essa invenção em algum recôndito do Acre.

Aí você se pergunta: e onde entra o holograma nisso tudo? Bom o holograma já existe faz muito tempo. Mas não naquela forma que gostaríamos, com projeções de pessoas a laser em tamanho real. Ele é um exemplo muito claro de uma coisa que todos aguardamos. Está presente no imaginário coletivo, de um esquimó até um indonésio todos conhecem o conceito, esperam algo do tipo no futuro e com certeza o achariam de grande serventia. Inclusive, estes moradores de locais tão distantes entre si poderiam conversar se vendo integralmente e até trocar experiências sobre seus habitats representados por meio do holograma, colaboração rica e profunda, louco não?

A imaginação talvez seja a maior qualidade dos seres humanos, primeiro se imagina depois se cria. Tudo que existe foi imaginado antes. Em 1992 a ideia de holografia já não era nova, mas ganhou uma visão de uso ainda não explorada nas mãos do roteirista de HQs, Peter David, isso no tempo em que as histórias em quadrinhos eram subestimadas e nem sequer eram consideradas arte; na história de Homem Aranha 2099, uma obra visionária, o personagem principal tem uma assistente virtual holográfica em tamanho real com inteligência própria, ela o ajuda em tarefas rotineiras, lembretes, notícias, compras (te lembrou algo?) e também acaba por ser meio amiga meio confidente de Miguel, o protagonista, ela ainda pode assumir diferentes aparências seja de pessoas vivas ou mortas conforme o gosto do seu “amo”, mas na história ela quase o tempo todo usa uma alusão de Marilyn Monroe, provocante ela ainda apresenta traços de personalidade: é simpática, bem-humorada, irônica e conselheira. Seu nome na história é Lyla (LYrate Lifeform Approximation- Aproximação de forma de vida) e antecipou em muito a ideia de assistente virtual, ela seria o que a Alexa e outras assistentes atuais querem ser, só que lembrando isso foi imaginado há 30 anos atrás.

Isso demonstra que primeiro se imagina e depois damos um jeito de construir.

Se você não acha que ficção, ou seja, algo imaginado, tem impactos nas coisas que são criadas, então sua visão está limitada. Pense por exemplo que boa parte dos fazedores do Vale do Silício são nerds fãs de Guerra nas Estrelas, e são estes caras vivendo na meca da tecnologia que estão pensando algumas das maiores inovações para o mundo. A fantasia alimenta a realidade e a realidade realimenta novas fantasias.

Quem nunca sonhou em conversar com um conhecido como nos filmes, vendo claramente a pessoa como se ela estivesse ali, numa presença quase espiritual? Esse é um anseio humano em comum, quase todos o partilhamos, é o chamado ponto de convergência, que é o que faz com que muitos busquem criar algo esperado por todos, foi assim com o avião e a roda. Esse holograma belo e útil ainda não foi criado. No entanto, agora mesmo pode estar sendo desenvolvido em segredo numas destas grandes empresas e aparecer como se fosse do nada, de um momento para outro, mudando tudo de novo. Mas, veja só, também pode ser que essa invenção saia de uma garagem qualquer ao redor do mundo.

Eu aguardo aqui ansioso e com fé na infinita inventividade humana. Você não?

Observação: este texto foi escrito por uma pessoa humana, não sou um robô. Mas neste mesmo momento enquanto você o lê, a inteligência artificial também deve estar lendo e aprendendo.