É desafiador pensar na luta pela inclusão de pessoas com deficiência. São muitos desafios ainda a superar, e impõe-se a problematização e um debate amplo acerca do tema, e se discutir o conceito de normalidade. Afinal, quem é normal? O filósofo Michel Foucault critica a noção de normalidade, destacando que a loucura, no caso de objeto de investigação, é uma criação da própria sociedade. Em aspectos educacionais, é preciso também superar o parâmetro muitas vezes injusto sobre a reflexão sobre normalidade que, em última instância, embora entendida como parâmetro importante, também deveria ser analisada pela subjetividade.

Muitas pessoas com deficiência conseguiram avanços, conquistando direitos, mas o olhar que ainda se tem para deficientes envolve comiseração, piedade, como se fossem inferiores aos “normais”. Direitos fundamentais devem ser garantidos para as pessoas com deficiência; mas é preciso, também, superar toda e qualquer estigmatização e não excluir aqueles que julgam sob rotulações, não apenas pessoas com deficiência, mas todas que igualmente necessitam ser respeitadas e não excluídas da sociedade.

Incluir não é apenas colocar junto ou possibilitar a presença das pessoas com deficiência no meio da coletividade, mas procurar, de diversas formas, não avaliar com um olhar de compaixão aqueles dissimilares à maioria e que nomeiam “anormais”. Padrões acabam sendo impostos e emergem como forma de hierarquizar as pessoas. Não podemos hierarquizar mais as pessoas. Categorizar é sempre uma forma de exclusão porque se julga com base em padrões diferenciados dos que tacham como normais. Precisamos de forma urgente deixar de excluir as pessoas.

Vivemos tempos melhores a cada dia, e, atualmente, a discussão provoca muitos debates. Dessa forma, impõe-se incluir as pessoas diferentes sem forçá-las a adaptar-se a padrões que, em nosso equivocado entendimento, supomos ser o correto. Não existe um padrão correto para nivelar as pessoas. O homem é um ser único e, como tal, apresenta características próprias, ninguém é cópia de outrem. Assim, em uma sala de aula, diante da indisciplina escolar, sobretudo aquele que educa deve munir-se de precauções, tomar cuidado com o excesso de diagnósticos sem fundamento. Os diagnósticos superficiais sempre estigmatizam as pessoas.

Toda exclusão envolve um discurso moral também, de julgamento. A moral, em si, não é má, mas o ambiente escolar não é local de crenças individuais, é o ambiente do debate amplo e significativo sempre buscando o diálogo para promover a autonomia de cada pessoa. Somos desafiados a pensar na importância da moralidade como uma questão muito importante e significativa na existência humana, fundamental entender que o ambiente escolar é o lugar em que podemos nos expressar de maneira pública. Lugar de crenças pessoais são outros ambientes, como o lugar das religiões.

Existem diversos e variados debates sobre o diálogo entre as religiões. Sem querer entrar no mérito de proposições teológicas, defendo a importância que as religiões se unam em prol da inclusão e que sejam elas memas promotoras do acolhimento de todas pessoas que de alguma forma encontram-se marginalizadas na sociedade. É urgente que surjam novas formas de pensar as relações humanas que partam do pressuposto da liberdade de pensamento, crença, expressão sem que isso possa acarretar alguma represália e exclusão da forma que seja.

A liberdade de crença e livre expressão é um direito humano básico que se relaciona diretamente com a questão da inclusão porque muitas pessoas que expressam-se de forma franca e honesta, acabam também sendo prejudicadas pela sua sinceridade. Incluir é um desafio ético do século XXI visando o respeito pela dignidade da pessoa humana. Mais do que discursos, precisamos de práticas sociais inclusivas que superem todo preconceito e segregacionismo.

A tão sonhada democracia com o respeito pela liberdade individual só ocorrerá se o espaço da escola for também democrático e não criminalizar o diferente. É “normal” ser diferente. Somos convidados a pensar em uma sociedade democrática e pluralista, visando acolher a todos que são, pensam e agem de maneira diferente da nossa. Respeitar o diferente não é aceitar tacitamente o que ele afirma e, sim, buscar de forma concreta vivenciar na existência um respeito pelo outro que pensa diferente de mim, que é diferente de mim; ao mesmo tempo, não preciso nem gostar, apenas aceitar. Oxalá possamos construir uma sociedade mais inclusiva nas mais diversas esferas, sempre buscando a emancipação humana e a vivência democrática. Incluamos para nos somarmos às demais pessoas. Jamais excluir!