Nos dias atuais, o veloz acesso às informações resultantes dos avanços tecnológicos fez com que o principal desafio do cérebro humano deixasse de ser o de armazenar a maior quantidade possível de conhecimentos e passasse a ser o de conectar os aprendizados para a resolução de problemas de forma integrada às várias dimensões do ser humano, com suas aspirações, suas emoções, suas relações com as outras pessoas e com o ambiente.

No passado, a educação se resumia a ensinar algo novo às pessoas. Hoje, significa certificar-se de que as pessoas irão desenvolver habilidades para lidar com um mundo cada vez mais incerto, volátil, ambíguo, frágil e ansioso. Antes, os professores achavam que seus ensinos seriam para a vida toda dos estudantes. Hoje, as escolas precisam preparar os estudantes para mudanças econômicas, sociais e emocionais, que ocorrem a uma velocidade nunca vista antes.

Diante disso, a educação do século XXI passou por um processo de ressignificação e assume um novo papel: o de priorizar e estimular ligações sociais e experimentações, permitindo que os estudantes se engajem com o aprendizado e encontrem suas paixões e papéis mais amplos na sociedade e no mundo. Mais do que ensinar, deve apoiar a criança na construção dos pilares da inteligência emocional e de habilidades que permitam identificar caminhos possíveis, promissores e aprazíveis neste mundo imprevisível, em profunda e constante transformação para estabelecer conexões neurais fortes e impactos positivos no processo educacional crítico e criativo, que vão muito além das folhinhas de atividades.

No livro Casa das estrelas, de Javier Naranjo, Maria José García, de apenas 8 anos, define o professor como sendo “uma pessoa que não se cansa de copiar”. Como ressignificar o papel do professor para transformá-lo em educador, mediador e facilitador da aprendizagem para que ele deixe de falar “para” o aluno e comece a falar “com” o estudante para “consciêncialetrar” e ativar as vogais da Inovação (Apoiar, Engajar, Impactar, Oportunizar, Unir)?

O título Consciêncialetrar possibilita analisar e experienciar o processo de ensino sob três óticas: 1. Processo de letramento consciente; 2. A Ciência como instrumento potencializador da aprendizagem; 3. Desenvolvimento da consciência letrada.

Processo de letramento consciente

Processo gradual e contínuo que se inicia na infância e se estende por toda a vida. Ele envolve competências necessárias para compreender e usar a linguagem escrita de forma eficaz, pois contribui para o desenvolvimento das seguintes habilidades:

  • Consciência fonológica: capacidade de perceber e manipular os sons da língua.
  • Compreensão de leitura: capacidade de compreender o significado de textos.
  • Produção de escrita: capacidade de produzir textos escritos.

Além disso, o letramento consciente também contribui para o desenvolvimento de habilidades cognitivas mais complexas, como:

  • Pensamento crítico: capacidade de analisar e avaliar informações.
  • Resolução de problemas: capacidade de identificar e resolver problemas.
  • Criatividade: capacidade de gerar novas ideias.

Segundo Greff e Greff1, o processo de letramento consciente pode ser dividido em três etapas:

  • Etapa pré-alfabética: Nessa etapa, as crianças começam a desenvolver a consciência fonológica, que é a capacidade de perceber e manipular os sons da língua.
  • Etapa alfabética: Nessa etapa, as crianças aprendem o sistema alfabético e começam a ler e escrever palavras.
  • Etapa pós-alfabética: Nessa etapa, as crianças desenvolvem habilidades mais complexas de leitura e escrita, como a compreensão de textos e a produção de textos escritos.

A ciência como instrumento potencializador da aprendizagem

A Ciência é uma área do conhecimento que estuda o mundo natural e seus fenômenos. Ela é essencial para o desenvolvimento humano, pois nos permite compreender o mundo ao nosso redor e tomar decisões assertivas.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC2) da Educação Infantil estabelece que as crianças devem desenvolver a capacidade de explorar o mundo natural e social, conhecendo seus fenômenos e as relações que os constituem, contribuindo para a construção de uma visão integral do mundo. Além disso, estabelece cinco campos de experiência que devem ser trabalhados com os estudantes:

  • O eu, o outro e o nós - As crianças podem aprender sobre si mesmas e sobre os outros por meio de atividades científicas, como observar as diferenças e semelhanças entre as pessoas, ou realizar experimentos que exploram as características físicas e psicológicas dos seres humanos.
  • Corpo, gestos e movimentos - As crianças podem desenvolver sua coordenação motora e o controle do próprio corpo por meio de atividades científicas, como construir brinquedos com materiais reciclados, ou realizar experimentos que exploram as propriedades dos objetos.
  • Traços, sons, cores e formas - As crianças podem desenvolver motricidade fina e grossa, criatividade e expressividade por meio de atividades científicas, como criar pinturas inspiradas em fenômenos naturais, ou realizar experimentos que exploram as propriedades das cores e habilidades sensoriais.
  • Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações - As crianças podem desenvolver sua compreensão do mundo ao seu redor por meio de atividades científicas, como observar os ciclos da natureza, ou realizar experimentos que exploram as propriedades da luz e do som.
  • Natureza e sociedade - As crianças podem desenvolver seu conhecimento sobre o mundo natural e social por meio de atividades científicas, como observar os animais e plantas do ambiente, ou realizar experimentos que exploram os fenômenos da natureza.

Desenvolvimento da consciência letrada

A consciência letrada é a capacidade de compreender o propósito da linguagem escrita e de usar as letras e os números de forma significativa. Ela é essencial para a alfabetização e para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC2) da Educação Infantil estabelece que as crianças devem desenvolver a capacidade de explorar diferentes materiais escritos, reconhecendo sua função social, e identificando marcas de escrita familiar, tais como seu nome, etiquetas, placas, logotipos, etc.

O desenvolvimento da consciência letrada pode ser promovido por meio de atividades lúdicas e significativas, como:

  • Contação de histórias: as crianças aprendem sobre o mundo da escrita por meio da escuta de histórias.
  • Exploração de livros: as crianças podem explorar livros e folhetos, observando as imagens, as letras e os números.
  • Jogos e brincadeiras: ajudam as crianças a desenvolverem habilidades de alfabetização, como a consciência fonológica e a correspondência entre letras e sons.
  • Experimentos científicos: proporciona um contexto lúdico e afetivo que favorece o despertar da curiosidade e promove o desenvolvimento do pensamento crítico e da resolução de problemas, além de contribuir na elaboração do olhar investigativo, na ampliação de vocabulário e na criação de hipóteses.

Consciêncialetrar

A tríplice aliança — consciência + ciência + letramento — contribui para a ativação das vogais da inovação:

  • A-apoiar: a ciência pode apoiar a inovação ao fornecer o conhecimento e as habilidades necessárias para resolver problemas. Por exemplo, as crianças podem aprender sobre os princípios da engenharia para construir brinquedos e estruturas, ou aprender sobre os princípios da ciência da computação para criar jogos ou aplicativos.
  • E-engajar: a ciência pode engajar as crianças na aprendizagem ao despertar sua curiosidade e senso de descoberta. Por meio de atividades científicas, as crianças podem explorar o mundo ao seu redor e aprender sobre temas que as interessam.
  • I-impactar: a ciência pode impactar o mundo ao nosso redor ao gerar soluções para problemas reais. Por exemplo, as crianças podem aprender sobre a importância da reciclagem e da preservação do meio ambiente, ou aprender sobre as causas e consequências das mudanças climáticas.
  • O-oportunizar: a ciência pode oportunizar às crianças o desenvolvimento de habilidades e competências que serão essenciais para o seu futuro. Por exemplo, as crianças podem aprender a pensar criticamente, a resolver problemas e a trabalhar em equipe.
  • U-unir: a ciência pode unir as pessoas ao redor de um objetivo comum: compreender o mundo ao nosso redor e melhorar a qualidade de vida de todos. Por meio da ciência, as crianças podem aprender sobre a diversidade cultural e a importância da cooperação.

Portanto, “consciêncialetrar” é um processo fundamental para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, e também para o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo, preparando as crianças para o sucesso na escola e na vida. Ao integrar a ciência à educação, os professores podem ressignificar seu papel e ativam as vogais da inovação, tornando-se facilitadores do aprendizado, ajudando as crianças a explorarem o mundo de forma significativa.

Notas

1 Greff, A.; Greff, M. (2022). Letramento consciente: Cartilha silábica.
2 Ministério da Educação. (2018). Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC.