A maneira como o ser humano percebe a realidade tem sido um tema comum de discussão ao longo da história. Desde a Grécia antiga, já se debatia se o mundo era exatamente como o percebemos ou se ocorre alguma forma de distorção nos nossos sentidos e mente. Os filósofos antigos já criticavam o chamado “realismo ingênuo”, segundo o qual nossa visão captava o mundo de modo perfeito, isso foi provado falso pela existência de ilusões óticas. A polêmica não se extinguiu, na era moderna, filósofos como Renê Descartes, George Berkeley e David Hume argumentaram que não tínhamos como saber se o mundo real existia ou se eram simplesmente ilusões que tínhamos sobre ele na nossa mente.

A ciência moderna ajudou a esclarecer o assunto. Hoje sabe-se que o mundo não é exatamente como nossos sentidos o captam, mas nosso cérebro não parece ser o inventor da realidade. Como o corpo humano é produto da evolução, a biologia criou os seres vivos com a habilidade de captar a realidade de um modo que fosse útil para sua sobrevivência, ainda que de forma imperfeita, mas eficiente.

As limitações dos sentidos humanos são várias, quando se olha para uma pedra ou uma parede, percebe-se como um objeto denso e fechado, mas na verdade, a maior parte do espaço no interior do objeto está vazio, ele é ocupado por átomos que se ligam entre si por força eletromagnética, mas o espaço dentro dos átomos é quase todo vazio. Mesmo assim, não é possível para alguém atravessar uma parede. Pois os átomos do objeto repelem os átomos do corpo humano.

Seria obviamente muito complexo para nosso corpo perceber tamanho detalhamento, então nossos olhos veem um objeto denso e intransponível, o que já é o suficiente para que saibamos que não podemos atravessar. Do mesmo modo, o mundo a nossa volta é repleto de uma substância invisível: a matéria escura. Ela não possui eletromagnetismo logo quando um corpo toca nela simplesmente a atravessa. Como tal material não afeta em nada na vida cotidiana, o ser humano nem sequer é capaz de perceber que ela existe. Apesar de falha a percepção capta o que é relevante.

Os seres vivos desenvolveram, ao longo da evolução, 5 sentidos principais. Ainda que alguns animais tenham sentidos extras, como a capacidade das cobras de sentir calor do corpo das presas, ou a habilidade dos tubarões de perceber a eletricidade emitida pelos outros animais. Apesar da importância dos sentidos ser diferente em cada espécie, morcegos dependem mais da audição, toupeiras precisam de um tato desenvolvido. Geralmente, no mundo animal é a visão que é o sentido mais relevante e do qual os seres vivos dependem para se guiar.

A visão consiste na capacidade de perceber pequenas partículas chamadas fótons de luz. O planeta Terra é bombardeado maciçamente por luz oriunda do Sol. Ao chegar na superfície, a luz é refletida pelos corpos, os animais desenvolveram os olhos para perceber essa luz refletida pela terra. Após a percepção, os sinais são montados pela mente como um quebra cabeça que pode entender como é o mundo que está diante dos seus olhos.

Os olhos foram uma das adaptações mais complexas da natureza, ao longo da evolução dos animais. Os olhos mais simples de todos são chamados ocelos: estão presentes em animais simples como medusas e vermes. Eles são formados apenas por várias células juntas que detectam a luz, podendo dizer de que direção vem a iluminação, mas não podendo formar uma imagem do mundo, sendo uteis para o animal se direcionar na escuridão do Oceano. Mesmo algumas criaturas microscópicas parecem ter algo similar a visão. Algumas bactérias conseguem captar qual lado do seu corpo recebeu luz e se mover para perto dela.

Animais mais complexos como moluscos, insetos e vertebrados (animais com esqueleto) se adaptaram para possuir olhos elaborados, funcionando de modo similar as modernas câmeras, descrevendo em detalhes como o mundo aparenta.

O aparecimento dos olhos acelerou a evolução, agora os animais podiam se mover mais facilmente, explorando o mundo em busca de presas ou inimigos. Os animais que caçavam precisavam de olhos eficientes para encontrar suas vítimas, os animais que eram caçados tinham que ser capazes de ver seus algozes de longe para poder escapar deles. A corrida evolutiva ficou mais acelerada e os olhos tornaram essa competição mais acirrada.

Apesar de sua grande contribuição para a vida na Terra, os olhos não são muito eficientes na sua função. Eles servem para captar a luz, mas apenas uma ínfima quantidade da luz pode ser percebida por eles. A luz existe no universo em uma grande quantidade de tipos diferentes, ondas de rádio, infravermelho, luz visível (aquela que realmente podemos sentir), ultravioleta, raios gama. A luz visível que percebemos não é nem metade da iluminação que chega a Terra. Uma grande diversidade de fenômenos luminosos ocorre a nossa volta, mas não temos a capacidade de vê-los por causa disso.

Mamíferos não são muito bem-dotados na visão de modo geral. Grande parte dos outros animais têm olhos mais eficientes. Mosquitos conseguem ver a luz infravermelha. Aves e abelhas conseguem ver a luz ultravioleta. Mamíferos evoluíram para enxergar sem muita nitidez, mas conseguirem ver na presença de bem pouca luz (pois evoluíram de animais noturnos que evitavam sair durante o dia para não competir com os dinossauros).

Os primatas como o homem e os macacos constituem uma notável exceção. Por terem se especializados em comer frutas, os primatas precisavam ter uma boa visão que reconhecia cores com facilidade, logo sua visão se tornou melhor do que a dos demais mamíferos vendo mais diversidade de cores, animais como cães e gatos veem o mundo de modo mais acinzentado do que nós, pois têm limitação para diferenciar o verde do vermelho. Em compensação, os macacos e humanos perderam a visão noturna, comum a maioria dos mamíferos, obrigando a se tornar quase exclusivamente diurnos.

Os olhos são capazes de detectar a luz devido as células presentes em seus olhos, chamadas cones e bastonetes. Os bastonetes servem para perceber a luz, enquanto os cones permitem diferenciar as cores. Apesar de ser possível diferenciar milhares de cores diferentes, o olho humano enxerga apenas três cores diferentes, vermelho, azul e verde. Todas as demais cores são apenas misturas dessas três cores.

Para cada uma delas existe um tipo de cone específico, ou seja, tem três tipos de células cones diferentes no olho humano. Mas essa não é a regra na natureza. Peixes, repteis e aves são capazes de captar 4 tipos de cores diferentes, tendo melhor detalhamento do que humanos. Borboletas são capazes de reconhecer 5 cores diferentes. Os mamíferos durante sua evolução perderam duas dessas cores, enxergando o mundo de modo acinzentado. Enxergar de noite não possuía grande necessidade de cores.

Quando os primatas vieram para a luz do dia desenvolveram a capacidade de enxergar o vermelho novamente, o que era útil para saber quando as frutas estavam maduras. A visão se tornou tão importante para os primatas que investiram grande parte dos seus recursos nela. O pequeno Társio, um primata noturno e primitivo que vive em algumas ilhas da Ásia, desenvolveu os maiores olhos dentre os mamíferos, sendo maiores que o seu próprio cérebro.

Mas não é apenas a estrutura do olho que importa. A posição deles também. Entre os mamíferos predadores os olhos ficam posicionados próximos, na frente do cabeça, isso permite ver o mesmo objeto com os dois olhos e assim ter noção da profundidade, o que permite detectar melhor a presa durante a caça. Os herbívoros por sua vez têm olhos separados, cada um em um lado da cabeça, se isso impede que vejam em profundidade, lhes dá visão por quase 360 graus, ajudando a evitar ser surpreendidos por um predador. Apesar de não caçarem com tanta frequência, os primatas têm olhos semelhantes aos dos carnívoros. Pois tendo evoluído para viver nas árvores, precisavam enxergar em profundidade para saber como pular de galho em galho sem cair da árvore.

Mas os olhos mais impressionantes da natureza pertencem a um crustáceo, a Tamarutaca, ou lagosta-boxeadora. Enquanto os olhos dos humanos podem diferenciar apenas 3 cores, a tamarutaca consegue reconhecer 16 cores, sendo os mais detalhistas da natureza. Uma verdadeira obra-prima da evolução.

Mesmo com suas muitas limitações, os olhos mudaram para sempre a vida na Terra, foram eles que tornaram possível os animais se tornarem tão ágeis, adaptáveis e inteligentes. Se diversificando e ocupando diversos espaços na terra. Se não fosse a chegada da visão os animais se limitariam apenas a criaturas fixas no solo, como esponja e anêmonas, ou seriam criaturas que flutuavam sem direção, como águas-vivas. Todo o grande leque de possibilidades que a evolução desbravou foi porque os animais podiam olhar adiante.