Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no último trimestre de 2023, a taxa de desemprego no Brasil chegou a 7,7% e atingiu cerca de 8,3 milhões de brasileiros. Ainda, conforme a reportagem do G1 de 08 de dezembro de 2023, nos últimos anos, tem-se tornado comum profissionais com ensino superior trabalhando em áreas que não exigem esse tipo de escolaridade, um aumento de cerca de 21% entre 2019 e 2022.

É fato que depois da crise sanitária causada pelo Coronavírus, tudo ficou mais difícil: grandes empresas fecharam as portas, os preços dos produtos dispararam, tivemos crises no setor imobiliário, a Rússia invadiu a Ucrânia e fez o preço do barril de petróleo bater recordes, entre outras tantas ações imprudentes a mando de desgovernos que prejudicaram a economia do mundo. Concordo com quem vê o contexto em que estamos inseridos e não vê esperança para o futuro. Porém, será mesmo que não há uma solução para isso tudo?

O primeiro ponto é entender: de onde veio tanta gente com curso superior? E a resposta vem da facilidade de se fazer uma faculdade, atualmente, quando se compara com a década de 90, por exemplo. Longe de mim querer criticar essa facilidade de formar mais profissionais; na minha opinião, educação é sempre um investimento e deve ser incentivada e nunca menosprezada.

O fato, porém, é que formamos muitos profissionais e esquecemos de avisar aos empregadores que eles precisariam contratar todo esse pessoal. A minha percepção, enquanto desempregada neste último ano, é de que, na grande maioria das vezes, as empresas contratam quem já está empregado e, assim, o desemprego não acaba. Vira um círculo vicioso: abre uma vaga, que é preenchida por quem já tem um emprego, então uma empresa que perde um funcionário para outra, mas contrata alguém que também já estava empregado e isso nunca tem fim!

Para piorar a situação, agora tem uma nova moda: layoffs - milhares de colaboradores sendo desligados de uma única vez. 100, 200, 300 funcionários ou mais sendo jogados na cova dos leões que é o mercado de trabalho. Quem vai contratá-los? Não sabemos!

Mas, voltando um pouco ao que eu disse anteriormente, será que existe esperança? Como uma boa brasileira que sou, nunca perco a fé, mas confesso que estou desanimando após meses de intensa procura. Os motivos que me afligem são os mais variados e, com toda certeza, são comuns a muitos dos meus colegas que estão na mesma situação: salários de R$2.000 com regime presencial e modelo de contratação PJ, vagas de analista com obrigação de engenheiro, processos seletivos sem retorno, quem dirá feedbacks, provas do Enem para conseguir uma entrevista (teste de lógica, inglês, matemática), vaga de júnior com exigência de sênior e, finalmente, infinitas candidaturas para uma única vaga.

Infelizmente, algumas profissões como a engenharia estão profundamente atreladas ao desenvolvimento econômico de um país, porém, dizer que não existem vagas para ao menos começar o processo de empregabilidade certamente é papo de quem desconhece a realidade. Dar oportunidade a quem está desempregado vai muito além de simplesmente contratar; é preciso modificar a estrutura arcaica com que muitas empresas realizam o processo de seleção e, acima de tudo, entender que a raiz do problema é o preconceito. O candidato perfeito não existe, mas ele pode se tornar o ideal se tiver a orientação necessária e, se for realmente valorizado com salários dignos e benefícios compatíveis com as necessidades da região.

Por isso, para ficar mais ilustrativo, deixei uma série de ações que podem ser adotadas abaixo e que podem iniciar um processo de melhoria em 2024.

  1. Deem oportunidades a quem está desempregado. Parem o círculo vicioso. Priorizem àquele candidato com experiência, conhecimento, qualificação técnica, mas que foi demitido em 2022.
  2. Treinem habilidades e contratem caráter. Não procurem por candidatos perfeitos, mas por candidatos interessados. Parem de atrasar os processos de recrutamento e seleção, escolham profissionais que possuam conexão com a empresa e que estejam dispostos a aprender. Garanto a vocês, o resultado é incrível.
  3. Paguem salários dignos, todos os nossos direitos conforme a CLT e não nos eliminem dos processos seletivos por conta da nossa pretensão salarial. De preferência, divulguem pelo menos a faixa estabelecida nos anúncios das vagas, assim candidatos realmente interessados se inscreverão. Imagine que maravilha o RH entrar em contato apenas com pessoas que estão de acordo com a remuneração oferecida? E olha que louco, quanto tempo seria economizado nessa simples mudança? Surpreenda-se com a resposta.
  4. Deixem as provas de conhecimentos para quem está fazendo vestibular. Se forem fazer testes, tragam situações reais e avaliem as soluções que o candidato trará. Isso mede o nível técnico de um profissional não aqueles testes de lógica ridículos das plataformas de inteligência artificial.
  5. E, por último, a cereja do bolo: forneçam feedback. A vaga estava aberta e 100 pessoas se inscreveram? Faça um filtro, selecione aquelas com maior aderência, mas, pelo amor de Deus, diga às outras o porquê não foram escolhidas e, façam isso em todas as etapas subsequentes.
  6. E, como dica bônus: Tenham mais empatia com a situação que muitos de nós estamos vivendo, cumpram aquilo que foi acordado. Se você prometeu uma resposta até o dia 20 de um determinado mês, retorne até aquela data. Se a empresa, por algum motivo, ainda não tem a decisão final, comuniquem o atraso aos candidatos. Não nos deixem esperando por 10, 15 dias a mais do que o que foi acordado. Em nome de todos os colegas, lhes digo: A nossa ansiedade agradece.

E aos meus caros colegas, que estão enfrentando a mesma situação que eu, lembrem-se, a recolocação está difícil, mas desistir não vai adiantá-la. Mantenha sua fé aquecida e confie no seu processo. É só uma fase complicada, mas vai passar!