Quando Harry Styles apareceu vestindo um vestido no Meet Gala em 2019 acabou causando um burburinho na internet por conta de ele estar usando uma roupa feminina, Jayden Smith quando apareceu usando uma saia também causou diversas discussões na internet e a mais recente discussão acerca de João Guilherme, filho do cantor Leonardo, usando um cropped causou uma grande briga nas redes sociais a respeito do tipo de roupas que um homem deveria ou não usar.

O movimento Queer surgiu durante os anos 80, em palavras simples, ele discute questões como os papéis sociais, comportamentos, características individuais e pode ou não estar alinhado ao sexo biológico da pessoa.

O movimento que é de suma importância para a classe LGBT+ acabou sendo “sequestrado” por grandes marcas e por celebridades como uma forma de atrair público. Claro que existem artistas que estão dentro dessa esfera e foram precursores desse movimento como Ney Matogrosso, David Bowie e Boy George, contudo, na época que esses artistas surgiram eles eram vistos como “peculiares”, hoje em dia, em que o movimento é mais conhecido e discutido, ele acabou se tornando uma forma de comércio entre grandes marcas e autopromoção entre as celebridades.

A indústria da moda, como não é nenhuma surpresa, é envolvida em diversas polêmicas como gordofobia, apropriação cultural, racismo, homofobia etc., contudo, com o crescimento do movimento Queer, a indústria da moda viu no movimento um novo meio de lucrar e atrair novos compradores.

O cantor Harry Styles, como já citado anteriormente, sofreu grandes críticas ao aparecer de vestido no Meet Gala. As críticas iam de homofobia a pessoas dizendo que ele estava se aproveitando do movimento Queer para promover sua carreira solo, entretanto, houve pessoas que o defenderam e disseram que ninguém pode definir a sexualidade do cantor (e ele mesmo é bem vago sobre isso, de maneira proposital).

Jayden Smith quando apareceu usando uma saia também foi duramente criticado pelas mesmas razões que Harry Styles, mas um dos casos que mais dividiu opiniões no Brasil foi quando o filho do cantor Leonardo apareceu usando um cropped (camiseta encurtada com tamanho até a linha do umbigo). As críticas foram mais pesadas de ambos os lados, mas uma das principais foi a de usar a pauta Queer para aparecer na mídia.

O problema discutido pelos que criticaram os três artistas aqui citados (excluindo as que eram de conteúdo homofóbico) é o uso do movimento Queer como uma tendência de moda, enfraquecendo e tirando a importância da pauta. Da mesma forma que usar uma roupa de importância étnica é apropriação cultural, usar um movimento importante como o Queer como tendência também é extremamente errado.

Somado a isso temos também a crítica desses artistas serem homens cis e todos, supostamente, heterossexuais, ou seja, de certa forma isso é interpretado como “ser queer é simplesmente uma fase que uma hora passa”, não somente isso, mas o fato de os artistas serem homens, em sua maioria brancos, e heterossexuais faz com que muitas pessoas queer se sintam extremamente ofendidas.

Além disso, tem-se o fato de que todos são celebridades e filhos de celebridades, além de eles estarem no padrão de corpos magros e/ou sarados e dentro do padrão de beleza socialmente aceito. Então, por mais que os próprios artistas e marcas digam que não estão se aproveitando do movimento Queer e que são na verdade aliados, não se pode recriminar as críticas e o ceticismo que a classe LGBT+ e a classe Queer tem em relação a eles.

Associar o Queer apenas ao modo como se veste é simplesmente reduzir um movimento e uma luta complexos a uma coisa apenas estética e fútil. Infelizmente a maioria das pessoas que defenderam e defendem esses três artistas na internet o fizeram simplesmente por eles serem celebridades, pois sabemos que o mesmo não aconteceria se fossem pessoas anônimas.

Ney Matogrosso e Boy George não sofreram esse tipo de acusações por praticamente serem os “criadores” do movimento Queer, não apenas isso, mas por, além deles fazerem parte da classe LGBT+, eles nunca deixaram de ter seu estilo ou mudarem como se fosse uma tendência. David Bowie também sempre foi conhecido por ser um artista excêntrico, bem antes do movimento Queer surgir, e nunca saiu de suas raízes.

Então a crítica se deve ao uso do movimento Queer como uma tendência de moda passageira, como uma coisa que você usa para um evento e chegando em casa se despe da roupa e volta a ser “normal”. As pessoas Queer nasceram assim, se vestem assim porque é como elas se veem, o que elas mostram é a sua essência, a indústria da moda se utilizar delas para lucro e os artistas se utilizar delas para autopromoção acaba sendo completamente ofensivo e merece sim ser criticado duramente.

O fato de algum artista se dizer aliado do movimento Queer não quer dizer que ele necessariamente precise se “fantasiar” como um Queer como se dissesse “vejam, eu sou igual a vocês”. Além disso, os preconceitos e dificuldades que uma pessoa Queer sofre vão muito além do uso de um vestido, saia ou cropped, mas sim da negação que a sociedade faz delas. O artista simplesmente vai continuar sua vida com a conta bancária cheia, fãs os defendendo e a sua “era Queer” sendo vista como uma coisa passageira e esquisita de suas carreiras, mas e como ficam as pessoas Queer no meio disso tudo?

Assim como as celebridades, as grandes marcas vão apenas mudar a sua coleção de moda e seguir como se nada tivesse acontecido e com isso o movimento Queer acaba sendo usado e descartado de forma grosseira e a luta do movimento perde força e seriedade com tudo isso.

O intuito do texto não é teorizar a sexualidade de artista X ou Y ou apontar dedos, mas sim alertar sobre uma prática de apropriação que acontece não apenas com o movimento LGBT+ e Queer, mas com os movimentos negros, asiáticos, latinos, indígenas e muitos mais.

Ser Queer, ser LGBT+, ser negro, ser asiático, ser latino, ser indígena não é uma fantasia ou tendência de moda que muda com o passar das estações. As pessoas nasceram assim, se orgulham da forma como nasceram e, com razão se ofendem ao verem sua classe usada como forma de lucro e viralização na internet.

Ser aliado das minorias é entender as críticas recebidas, não se aproveitar dos movimentos em detrimento próprio. Enquanto as grandes marcas e os artistas não entenderem isso, a luta de todas as minorias vai continuar de forma dura.