O medo do nada pode ser o medo de tudo, só que escondido numa falsa sensação de medo nenhum. No que dizemos ser o nada, um espaço vazio, seja na mente ou em qualquer outro lugar, pode seguramente não ser assim tão vazio quanto imaginamos ser; deve haver alguma coisa lá nesse lugar, que para muitas pessoas nem deve ser visitado.

"Nada mais será como antes...", quantas vezes ouvimos isso e depois tudo voltava ao velho normal? Eu já perdi minhas contas. O que é esse nada, meu Deus? Na verdade, eu não sei sobre o nada, porque ele é uma entidade desconhecida; dentro dele pode estar tudo, inclusive eu e você. Afinal, a Terra gira no meio do espaço, onde não há mais nada além das estrelas e outros planetas, então tem alguma coisa nesse “nada”. E.T.’s?

Quem não tem nada na cabeça? Tem muitas coisas dentro e fora dela: os olhos, a língua, o nariz, orelhas, cabelo, barba, o cérebro e nele, guardado, tem todo o conhecimento que acumulamos em nossa vida, uns mais, outros menos, mas ninguém tem “nada” lá dentro, como dizem de quem voa um pouco em alguns assuntos; sempre tem alguma coisa lá dentro, pensamentos, sonhos e alucinações, por que não?

O nada é muito abrangente, coisa grande demais; é um conjunto de não-coisas, ou de tantas coisas diversas, difícil de compreender. Quando dizemos algo sobre o nada, talvez estejamos dizendo tudo sobre alguma coisa. “Eu não sei nada sobre Matemática...” será que não sabe mesmo? Eu sei pouco dessa matéria, mal e porcamente as operações básicas e só; o resto eu não sei, mas não posso dizer que não sei nada porque eu sei que algumas coisas existem, outras esqueci, eu matei muitas aulas de Matemática...

Será que esse tal de nada é um lugar escuro, onde ninguém vê o que há lá dentro? Será mesmo um lugar, ou inventamos esse lugar a fim de nos eximirmos de algumas culpas ou de dar alguma opinião? Saber de nada não é bem assim; as pessoas sabem sobre o que lhes interessa, ou você estuda ou procura saber sobre química quântica, se é que isso existe, a todo momento? Eu não sei nem como são feitas as ligações do carbono; sei que existem, então sei alguma coisa sobre o assunto, não “nada”.

Um problema de Matemática para mim é um verdadeiro problema, pois não sei nem por onde começar a resolvê-lo, mas eu sei ler e sei que ele existe e, se tiver algum professor de Matemática por perto, vou para longe dele, pois prefiro ficar na ignorância dessa matéria do que tentar aprender. Portanto, não é que eu não saiba nada; eu só não quero, e nem vou, aprender isso; o mesmo vale para Química, Física e outras matérias que envolvam números e cálculos.

Mas e o nada existencial, será que é verdadeiro? Dizemos desse nada existencial daquela pessoa que apenas existe no mundo, mas sua existência, ou não-existência, não faria a menor diferença para o mundo e toda a sociedade, a quem chamamos de zero à esquerda. Mas essa pessoa, querendo ou não, tendo alguma projeção ou não, existe, não é simplesmente nada; é apenas uma forma de se referir a quem tem uma vida apagada.

Não é o caso de quem se acha importante, que está contribuindo para o mundo com alguma coisa porque dá opinião em tudo, mesmo naquilo em que não tem o domínio total, só para “marcar posição”; também ser um nada? Pois se suas opiniões não se baseiam em algo sólido sobre o tema, essa opinião, na verdade, não é nada, além de um monte de palavras jogadas ao vento para parecer que é tudo.

Por falar em “tudo”, ele também está contido no nada, porque o tal do “tudo” é uma figura de linguagem que não diz nada. Veja bem o exemplo: “eu fiz tudo o que podia, mas não deu certo...”, será que fez mesmo? “Tudo” nesse caso pode ter sido bem pouco; cada um tem uma medida das coisas, o que para mim é o mundo, para você pode ser apenas o meu quarto, pense nisso...

Quando eu resolvi falar sobre o “nada”, eu não tinha nada na minha cabeça, apesar de ela estar cheia de coisas, como dito antes; eu quis me referir a não ter um assunto específico para escrever nesse momento, mas, mesmo assim, as palavras que eu conheço e posso usar aqui estão sendo usadas para dar forma a esse texto; elas são nada? Talvez não te acrescentem muita coisa, ou te digam coisas que nem eu posso alcançar; cada um sabe o que é ou não é para si.

“Nada melhor do que não fazer nada”. Será? Fazendo nada você já está fazendo alguma coisa, que não terá resultado algum depois. Será? O resultado do fazer “nada” pode ser ficar descansado assim que terminar essa não-tarefa. Então, enquanto quem fazia “nada”, achando que estava fazendo “nada”, estava, nesse período, produzindo descanso, uma forma de se sentir melhor depois. No final das contas fez e produziu algo que não pode ser visto, mas existe.

Posso, a meu ver, não estar fazendo nada agora, só digitando palavras nesse editor de textos; talvez porque me sinta obrigado, talvez porque eu queira realmente fazer isso; na maior parte do tempo eu quero escrever; escrevo todo dia nem que seja uma quadrinha pequena. Por vezes escrevo coisas sem nexo algum, assim como pode ser esse texto; outras escrevo textos mais profundos, que até me surpreendem; esse texto pode ter alguma profundidade. Estou fazendo alguma coisa bem prazerosa nesse exato momento, acredite, um “nada” produtivo.

As pessoas nunca estão fazendo nada; elas pensam o tempo todo, ou você pode deixar de pensar quando quer? Eu não consigo; a mente fica girando, mesmo quando eu digo que “não vou fazer nada”, os pensamentos acontecem; então vou assistir televisão, tenho que prestar atenção no programa; estou fazendo algo, e quando uma propaganda diz: “você não precisa fazer nada, só enviar uma mensagem...”, mentira? Será preciso enviar a mensagem.