Um dos problemas no aprendizado da gramática é a apreensão dos conceitos a ela concernentes. E isso talvez se deva ao fato de não se buscar um conhecimento verdadeiro sobre a beleza de seu estudo.

Neste artigo, nos propomos a analisar um pouco a questão do substantivo, essa categoria gramatical de suma importância para a oração, uma vez que é dele que fala toda a oração.

Na definição de Rocha Lima:1

Substantivo é a palavra com que nomeamos os seres em geral, e as qualidades, ações, ou estados considerados em si mesmos, independentemente dos seres com que se relacionam.

Na acepção do gramático, chama a atenção o fato de o ser estar considerado em si mesmo. Isso implica um conhecimento muito mais elaborado que passa pelo conceito aristotélico de substância. De forma muito simplista, a substância para o filósofo, “é o que não se predica de algum substrato, mas aquilo de que todo o resto se predica”.

Esse conceito aponta para uma realidade importantíssima: a de que cada substância é única e, por isso, é preciso nomeá-la. Cada uma apresenta sua essência, que é justamente o que a diferencia de outra, e a torna singular.

É a partir desse conceito que se pode entender a primeira distinção entre comum e próprio.

Comum x próprio

O comum se refere a elementos que possuem a mesma essência, não importando seus acidentes. Assim, uma cadeira designa um objeto de quatro pernas que serve para se sentar independentemente de ela ser acolchoada, de balanço, de descanso, de massagem. Todas elas cumprem a mesma função e se caracterizam por uma forma já anteriormente imaginada. Por isso, é preciso habilidade argumentativa para se vender uma cadeira muito mais cara que outra.

Por sua vez, o próprio se refere a uma realidade única, singular. É o que acontece com os topônimos ou com os nomes de pessoas. Por mais que existam várias pessoas de nome José, cada José é único, não se podendo igualar a outro. E justamente por isso se deve respeitar essa individuação grafando os nomes de cidades, disciplinas, pessoas e outros que mostrem tal singularidade com a primeira letra maiúscula.

Concreto e abstrato

Concreto tem sua origem no latim cum crescere, ou seja, é aquilo que cresce junto, que tem firmeza, solidez. Entretanto, na Gramática, essa noção é um pouco diferente. Segundo Bechara2, é o que designa ser de existência independente, como sol, céu, mar, filho, mãe.

Rocha Lima1 expande essa definição, deixando-a ainda mais clara. Os substantivos concretos, para o gramático, (...) designam seres que têm existência independente ou que o pensamento apresenta como tal. Pouco importa que tais seres sejam reais ou não, materiais ou espirituais.

Assim, saci-pererê, mula sem cabeça, lobisomem e quaisquer seres imaginários devem ser considerados concretos, ao passo que, segundo Rocha Lima1, aqueles que designam qualidades, ações ou estados – umas e outros imaginados dos seres de que provêm, ou em que se manifestam devem ser considerados abstratos.

Disso se depreende que o que torna um substantivo abstrato ou concreto é a sua existência independente. Beleza, feiura, loucura, bondade precisam se manifestar em indivíduos feios, bons, loucos ou bons para que possam se tornar perceptíveis ao ser humano.

Feito isso, não há qualquer querela teológica ou existencialista sobre o que é concreto ou não, podendo-se discutir, no entanto, o conceito de realidade (o que não será feito neste momento).

As demais definições em torno desse tema são bastante óbvias, uma vez que, em se tratando de gramática, composto é sempre mais de um e simples, apenas um. As noções de primitivo e derivado são bastante lógicas e não carregam consigo qualquer dificuldade, bem como a de coletivo.

Esclareci o conceito de substantivo, mostrando-o como algo singular e que, por isso, possui tamanha importância na vida humana. Sem ele, seria impossível definir qualquer ser, objeto, pessoa; não se poderia, de maneira alguma, transmitir qualquer noção a quem dela precisasse. Sem o substantivo não se geraria nem seria possível qualquer comunicação.

Notas

1 Lima, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 61ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2022.
2 Bechara, Evanildo. Moderna gramática da língua portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.