Atuar como professor tem sido considerado uma das profissões mais desafiadoras dos últimos anos, como quase todos sabemos. Reformas curriculares, condições de trabalho precárias, infraestrutura escolar aquém do necessário e estudantes desmotivados são algumas das inquietações que perpassam o cotidiano docente, dentre tantas outras. Apesar de todas essas dificuldades, a literatura da área tem evidenciado que o manejo de sala de aula e o engajamento dos estudantes constituem-se como algumas das principais complexidades encontradas pelos professores em diferentes países.

Em uma investigação, por mim conduzida, foi identificado que os professores de ensino médio se sentem menos capazes para motivar e orientar os estudantes a participarem das aulas do que para planejar e selecionar as atividades e as estratégias de ensino e aprendizagem. Ou seja, os professores dessa amostra mostravam-se confiantes de que podiam planejar aulas diversas e estruturadas para ensinar os conteúdos do programa, mas sentiam certo nível de insegurança quanto ao manejo de sala de aula, ao trato e relacionamento com as diversas e imprevistas demandas que podiam surgir repentinamente durante as aulas.

No entanto, essa pesquisa também identificou que os professores que haviam estudado em cursos de especialização, mestrado e/ou doutorado se percebiam mais confiantes nas suas capacidades de manejo de sala de aula e de engajamento estudantil. Tal resultado coincide com o verificado em outras pesquisas que sinalizam a importância da formação para a percepção de confiança nas próprias capacidades dos docentes.

É interessante comentar que, segundo o grande pesquisador Albert Bandura, a formação profissional deve ser planejada intencionalmente para desenvolver conjuntamente a habilidade e a crença de autoeficácia, entendida como a confiança nas próprias capacidades necessárias ao exercício da profissão. Isso porque um profissional pode utilizar determinada habilidade de modo simples, adequado ou eficiente a depender da percepção sobre a própria capacidade em dada circunstância.

Isto posto, faz-se necessário pensar sobre como as formações de professores são realizadas. Quando consideradas as licenciaturas como os cursos em nível superior dedicados à formação docente, pode-se encontrar uma variedade grande de oferta, seja quanto ao número de instituições que oferecem tais cursos, seja sobre a modalidade (presencial, virtual, híbrido).

Variedade também pode ser vista quanto ao modo como os professores universitários ministram suas aulas para seus estudantes, os futuros professores. Por um lado, aulas que trazem as vivências da teoria posta em prática, estimulando a aprendizagem significativa, são cada vez mais presentes.

Por outro, aulas puramente expositivas, apoiadas pelo uso exclusivo de apresentações, nas quais os professores universitários palestram continuamente, ainda são constantemente encontradas. Nesses tipos de aulas, os professores universitários sentem-se como os donos dos saberes, tratam seus alunos como receptores de informação. Muitas vezes, durante essas aulas, podem ser constatadas incoerências teórico-práticas, pois o conteúdo a ser ensinado é relacionado à aprendizagem significativa, ativa, pelo meio da qual os estudantes podem construir seus conhecimentos com maior sentido; no entanto, o professor universitário não aplica o conteúdo que ensina à sua prática. Isso pode gerar um círculo vicioso, pois se na formação superior não se vivencia a aprendizagem significativa e ativa, o estudante – futuro professor da educação básica -, talvez não consiga aplicar na prática as premissas da aprendizagem significativa.

O modo como o professor se relaciona com os seus estudantes – futuros professores - também é um importante aspecto formador. Um professor universitário que se preocupe com as competências socioemocionais envolvidas no processo de ensino-aprendizagem, mesmo que estas não sejam diretamente relacionadas ao conteúdo da sua disciplina, será um modelo positivo para o futuro professor. Isso porque, ao vivenciar um espaço pedagógico que valorize e estimule as competências socioemocionais, o futuro professor ganhará duas vezes: primeiro porque terá a possibilidade de desenvolver as próprias competências socioemocionais; e segundo porque terá um modelo de atuação docente que visa possibilitar o desenvolvimento das competências socioemocionais.

Sem abarcar todas as variáveis integrantes do processo de formação dos professores, o destaque à prática docente exercida nas licenciaturas parece ser um interessante aspecto para se refletir. Há que pensar nas condições de trabalho dos professores universitários, que, sem dúvidas, estão longe dos ideais, dado que a sobrecarga de trabalho, a insatisfação e o burnout também estão presentes no cotidiano desses profissionais.

Por ora, parece ser necessário possibilitar formação, tanto para os futuros professores quanto para os professores universitários, que possa conciliar conhecimento prático e teórico, com o desenvolvimento de habilidades necessárias para o ensino e o fortalecimento da crença de autoeficácia para ensinar, para motivar os estudantes e manejar a sala de aula. Incluir o fortalecimento da crença de autoeficácia docente como uma ação intencional e planejada durante o processo de formação docente, segundo pesquisas, pode auxiliar a facilitar o entusiasmo e a satisfação do professor com sua carreira, práticas pedagógicas ricas e diversificadas, bem como a prevenção do burnout docente em contextos culturalmente diferentes, trazendo inúmeros benefícios à prática pedagógica. Afinal, esse parece ser mais um dos desafios relacionados à formação de professores.