Danielle  Munduruku
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Danielle Munduruku

Ajo, xipat tu en? (Oi, tudo bem com você?) na língua Munduruku.

Obutet Danielle Gonzaga de Brito (Meu nome é Danielle Gonzaga de Brito, na língua Munduruku). Sou filha de uma mulher Munduruku e um pariwat (Não indígena; homem branco, em Munduruku). Nasci na cidade de Manaus (que também é território indígena), no Amazonas, e sou canoa, que antes apenas estava à deriva, mas agora volta para a enseada do rio. Trata-se da busca das vozes da minha ancestralidade, quase silenciadas por um passado de dor e tristeza, mas que também se constitui de amor e alegria. Foram essas vozes ancestrais, que estiveram sempre presentes na minha infância, através dos sussurros da voz de minha mãe. Ela nasceu no atual Território Indígena do Kwatá-laranjal, no município de Borba, no Amazonas. Território de descobertas e de suas primeiras leituras de mundo.

Entre histórias de assustar, lembranças de festivais, de preparos de comidas, de momentos de doenças e métodos de cura, de confecção de artefatos, sabores, odores, caças e de muito amor entre irmãos, mamãe me contava e ainda conta sobre ser indígena Munduruku, mas essa voz foi apenas um sussurro, por muitos anos.

Lembranças doloridas e muito preconceito mantiveram por um longo tempo a voz de minha mãe apenas em sussurro, como um engasgo que tem dificuldade para ser diluído. Silenciamentos, medos, violências e pobreza, todos paridos pela colonização, quase me fizeram ser canoa à deriva para todo o sempre. Mas bisa Socó e vó Passarinho me fortaleceram, e agora fortaleço minha mãe na retomada de nossa ancestralidade. Não desejo nada que já não seja meu. Não peço permissão a quem me negou ser o que sempre fui.

Hoje, utilizo essa língua, essa língua que nunca foi minha, embora se diga materna, para falar com você, pois fui sequestrada da possibilidade de falar Munduruku. Hoje não tenho aldeia como território, quando vou ao Kwatá-Laranjal não tenho uma casa ou um lar para dizer que é meu, sou visitante no meu próprio território ancestral. Por outro lado, tenho meu corpo, meu corpo que agora é fortaleza e território.

Hoje não sou apenas Danielle, sou uma nação e, toda vez, que encontro outras vozes que clamam suas ancestralidades, me sinto mais forte. Sou mulher, professora e eterna aprendiz. Hoje sou canoa que sabe exatamente para onde deve ir e vou, pois acredito na possibilidade de mundos outros e por defender uma ecologia de saberes transculturais. Você topa vir comigo nessa jornada?

Xipat!

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