Como descrito no meu texto de apresentação, sou encantado por esportes, de todos os tipos. Porém, o futebol tem meu coração, principalmente porque cresci praticando esse esporte, com amigos e familiares. Uma das coisas que mais me encanta no futebol brasileiro, é a capacidade de unir pessoas diferentes por um mesmo objetivo: torcer para que seu time vença uma partida ou, vivendo um sonho, um campeonato. Não é à toa que o Brasil é considerado o país do futebol. É por meio dele que vivenciamos muitos sentimentos, em um curto espaço de tempo. Certa vez, em um campeonato de uma escola em que trabalhei, perguntei aos alunos o que se passava na cabeça deles quando estavam torcendo por algum time. As respostas foram das mais variadas: euforia, alegria, tensão, gargalhadas (principalmente quando o time era ruim), raiva pelos erros cometidos, tristeza quando o time perdia, entre outros.

Porém, é preciso fazer uma triste reflexão. Até que nível que meu sentimento de torcedor não ultrapassa limites e acaba virando fanatismo?

O dicionário online de conceitos define fanatismo como:

a paixão dos fanáticos, isto é, aquelas pessoas que defendem com garra e de forma desmedida as suas crenças ou opiniões. Os fanáticos (adeptos ou, simplesmente, fãs) também são aqueles que se entusiasmam, se preocupam ou se importam cegamente com algo.

Ora, muitas pessoas, no intuito de defender com garra e de forma desmedida suas crenças, acabam extrapolando limites éticos e morais. Nos últimos anos, observamos um aumento significativo de brigas entre torcidas organizadas, principalmente entre times rivais. Em uma pesquisa simples que fiz no google, foram centenas de notícias relatando brigas, invasões de campo, agressões e depredações, por parte de torcedores. O que deveria ser algo empolgante, por vezes, se torna desesperador. Ainda neste ano, vimos um torcedor invadindo o campo com uma criança de colo, para agredir um atleta. E mais uma vez vem o questionamento: qual o limite entre torcer de maneira saudável e chegar a pontos de fanatismo?

Outro ponto a ser discutido é o torcer a ponto de ofender. Nestes últimos tempos, observamos partidas serem interrompidas por conta de gritos homofóbicos, xenofóbicos e/ou racistas. O que mais pode intrigar é que esse assunto não é novidade, ou seja, é algo que acontece há muito tempo no país, porém não é dada a devida importância para esta temática.

Para se ter uma ideia, em 2019, o árbitro Anderson Daronco, pela primeira vez na história do futebol brasileiro, interrompeu uma partida por conta de gritos homofóbicos vindos de uma das torcidas. Talvez, ainda caberia aqui um grande espaço para falarmos deste assunto a nível mundial, visto o que vem acontecendo na Espanha, por exemplo. Contudo, creio que seria preciso outro artigo para falarmos deste assunto.

Mas nem tudo são pedras na história do futebol brasileiro. É fundamental notarmos os avanços que o país vem tendo no que tange ao respeito nos estádios. Além das diversas manifestações feitas por jogadores e diretoria de clubes, algumas ações e medidas que estão sendo tomadas vêm favorecendo a boa convivência nos estádios.

Neste ano, as torcidas de Athlético paranaense e Coritiba receberam uma punição, no mínimo pertinente. Por conta de episódios de violência no clássico que ocorreu em 2022, a justiça determinou que alguns jogos de ambos os times poderiam ter somente mulheres, crianças e pessoas com deficiência (PCD’s). Segundo notícias, as torcidas deram um verdadeiro show, lotando os estádios e fazendo uma bonita festa.

Por fim, um projeto de lei, que prevê punições mais severas aos clubes e suas respectivas torcidas que praticam atos preconceitos e se envolvem em episódios de violências, está sendo discutido no congresso. Este ato pode ser decisivo para a prevenção de cenas tão lamentáveis para o futebol no Brasil.