Você já vivenciou ou observou alguém vivenciar a situação a seguir?

-Nossa, fulano, que blusa bonita!
-Essa aqui? Nossa, tão velha. Comprei na liquidação da loja tal!

Veja, ao fazer o elogio a pessoa não perguntou o estado da blusa, o valor pago a ela ou o nome da loja, apenas elogiou. Por que então não nos limitamos apenas a dizer: Obrigada, ciclano?

A sociedade como um todo desenvolveu e nos ensinou, desde muito cedo, que para ser uma boa pessoa precisamos ser humildes. No entanto, humildade não tem absolutamente relação com depreciação.

O filósofo Kant define a humildade como virtude central da vida humana; em contrapartida, Nietzsche a define como uma falsa virtude escondendo e dissimulando a verdadeira pessoa que está dentro de nós.

O fato é que humildade não é sinônimo de pobreza. Afinal, podemos ter uma vida financeira abastada e nos sentirmos e nos colocarmos na mesma linha que outras pessoas. Ou seja, a humildade está relacionada ao nivelamento das pessoas em sua essência.

Uma vez que, para sermos aceitos como pessoas humildes, nos acostumamos de forma completamente equivocada a desmerecer a nós mesmos. Seja em uma ocasião como a do elogio à blusa, como o exemplo do início do texto, seja para uma entrevista de emprego.

Assim, vamos deixando de lado o que temos de melhor na vida: nossas conquistas, nossos merecimentos e tudo que nos eleva acima de algo ou alguém, não importa quanto tempo você estudou para a prova. Afinal, a nota final foi nove e não dez. E aquela vaga de emprego que você queria tanto, será que dará conta do recado?

O fato de sempre nos colocarmos na posição de inferior, não bons o suficientes para determinada coisa ou situação, é dado o nome de Síndrome do Impostor. A síndrome do impostor, também conhecida como síndrome da fraude, é um fenômeno psicológico no qual indivíduos têm uma persistente sensação de que são fraudes e que, em algum momento, serão expostos como incapazes, incompetentes ou fraudulentos, apesar de evidências concretas de sucesso ou competência. Essa síndrome é frequentemente associada a sentimentos de inadequação, autossabotagem e ansiedade relacionada ao desempenho.

As pessoas que sofrem com a síndrome do impostor muitas vezes têm dificuldade em internalizar suas conquistas e tendem a atribuir seu sucesso a fatores externos, como sorte ou circunstâncias favoráveis, em vez de suas próprias habilidades e méritos. Isso pode levar a um ciclo de autocrítica e autoquestionamento, prejudicando a autoconfiança e o bem-estar emocional.

Embora a síndrome do impostor possa afetar qualquer pessoa, independentemente de sua realização profissional ou acadêmica, é mais comum entre pessoas altamente realizadas e bem-sucedidas. Fatores como perfeccionismo, medo do fracasso, comparação com os outros e pressão externa podem contribuir para o desenvolvimento dessa síndrome.

O tratamento para a síndrome do impostor geralmente envolve terapia cognitivo-comportamental, que ajuda os indivíduos a identificar e desafiar pensamentos distorcidos sobre si mesmos, desenvolver uma autoimagem mais realista e aprender estratégias para lidar com a autocrítica e a ansiedade. O apoio social e a validação externa também podem ser úteis no processo de superação dessa síndrome.

Ainda sobre a ótica da filosofia, podemos refletir sobre o que nos diz Aristóteles em relação à humildade. Para o filósofo, humildade seria uma qualidade moral que envolve um reconhecimento adequado de si mesmo e uma modéstia equilibrada, evitando tanto a arrogância quanto a subestimação de si mesmo. Embora ele não aborde a humildade como uma virtude separada em sua ética, seus princípios de equilíbrio e moderação implicam uma valorização da humildade como parte integrante de uma vida virtuosa.

Assim, a humildade seria vista como uma virtude que está em equilíbrio entre o orgulho excessivo e a baixa autoestima. Aristóteles argumenta que o homem virtuoso é aquele que possui uma avaliação correta de si mesmo e de suas habilidades, nem se subestimando nem se superestimando. Ele destaca a importância de conhecer-se a si mesmo e de cultivar uma visão realista de suas próprias virtudes e limitações.